Com Queda de Popularidade de Dilma, Cresce Movimento ‘Volta Lula’
BRASÍLIA — A queda de popularidade do governo Dilma Rousseff, registrada em pesquisas recentes (Datafolha e CNI/Ibope), somada ao desgaste inevitável provocado pelas manifestações que tomaram conta das ruas do país, reforçou um sentimento latente na militância do PT: o desejo de que o ex-presidente Lula volte nas eleições do ano que vem. Esse anseio, no entanto, não é canalizado porque Lula não tem dado espaço. Lideranças petistas negam a insatisfação da base partidária com Dilma e se apressam em sepultar essa discussão, afirmando que abrir esse debate seria um tiro no pé. Reservadamente, no entanto, parte deles admite o clima que cresce não só entre a militância, mas também entre parlamentares petistas e da base aliada.
— No sistema que temos de eleição e reeleição, qualquer situação de fragilidade dentro do próprio partido é um tiro no pé. Essa discussão é de quem acha que o governo vai mal —afirmou o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), egresso do sindicato dos bancários.
A conversa na militância, no entanto, é outra. A única convergência é que a base do partido, disciplinada, concorda que não dá para fazer esse debate publicamente porque enfraquece a administração Dilma.
— Se tivesse uma prévia hoje no PT, Lula teria 100% dos votos — afirmou um petista que trabalha no governo federal.
O único que falou abertamente sobre o assunto foi o senador Paulo Paim (PT-RS), dois dias depois de pesquisa Datafolha mostrar queda de oito pontos na popularidade do governo Dilma. O levantamento foi divulgado no dia 8 de junho.
— A luz amarela acendeu e temos que ter cuidado para não entrar no vermelho. Tem gente no PT que acredita que ele (Lula) pode voltar. Se for preciso, ele volta — disse Paim na ocasião.
As reclamações em relação a Dilma entre parlamentares da base aliada, inclusive do PT, sindicalistas, empresários e movimentos sociais são anteriores às pesquisas que mostraram a queda na popularidade e às manifestações de rua. Agora, muitos confiam (e torcem para) que a presidente se abra mais ao diálogo, devido à mudança de cenário.
Diante do descontrole e da radicalização que marcaram as manifestações da última quinta-feira, a avaliação de que a entrada de Lula na disputa presidencial do ano que vem seria uma possibilidade concreta extrapolou o PT e esteve presente na conversa de aliados, como o PMDB.
Na noite de quinta-feira, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que havia acabado de chegar da Rússia, fez essa avaliação em uma roda:
— Desse jeito, vai ressurgir com força o “volta Lula” — afirmou Henrique Alves, de acordo com interlocutores.
No Congresso, principalmente na Câmara, as reclamações da base aliada são recorrentes. Apesar de ter maioria nas duas Casas, o governo tem enfrentado problemas em algumas votações como na Medida Provisória dos Portos. Deputados e senadores se queixam do estilo seco e centralizador da presidente; da falta de diálogo, inclusive sobre os projetos enviados; e do não cumprimento de acordos.
Uma liderança peemedebista resume a falta de empatia entre Dilma e sua base de sustentação:
— Nossa conversa dentro do Congresso é uma só: a Dilma tem nosso apoio, mas não tem nossa solidariedade.
A relação de Dilma também é azeda com movimentos sociais e empresários. Sindicalistas, acostumados com o espaço que tinham no governo Lula, se ressentem com a dificuldade que têm para serem recebidos por Dilma. Já o empresariado considera a presidente intervencionista. Lula tem recebidos esses setores, ouvido as queixas e tentado sensibilizar Dilma.
Pesquisa CNI/Ibope, divulgada na última quarta-feira, confirma levantamento feito pelo Datafolha uma semana antes. As duas apontaram uma queda de oito pontos percentuais na aprovação do governo Dilma. A CNI/Ibope demonstrou ainda um pessimismo da população em relação ao restante da gestão petista. A pesquisa ouviu 2.002 eleitores, em 142 municípios, entre os dias 8 e 11 de junho, portanto, antes da violenta repressão policial aos manifestantes, no dia 13, e antes de o movimento se espalhar por todo o país, chegando inclusive a cidades do interior.
De acordo com a pesquisa, 55% dos eleitores consideram o governo bom ou ótimo. Em março, eram 63%. Para 13%, a gestão dela é ruim ou péssima, um aumento de oito pontos percentuais em relação a março, quando apenas 7% tinham essa avaliação. O índice de regular teve uma variação de 29% para 32%.
Na tentativa de sepultar o “volta Lula”, o ex-presidente lançou antecipadamente a candidatura de Dilma à reeleição, em evento do PT, no início deste ano. A vacina, no entanto, teve prazo de validade curto.
Fonte: O Globo
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