Devotos Lotam Canindé
FOTO: FABIO LIMA |
A fé por São Francisco das Chagas, a agricultora Maria Conceição Oliveira, 46, vive todos os dias. Quando chega setembro, a devoção se transforma em sacrifício – e ela sai a pé de Paramoti, para transpor com orações e cânticos a distância até Canindé, terra de Francisco no Ceará. “Dizem que dá umas sete léguas. Vim pagar (uma promessa) e agradecer. Tudo pela fé”. Após 12 horas de caminhada, chegou à cidade na madrugada de ontem.
Quando a terça-feira ainda não tinha amanhecido, Maria e milhares de romeiros já lotavam a Praça da Basílica, na cidade a 120 quilômetros da Capital, para prestigiar São Francisco. Não há sono que consiga ultrapassar a fé dos devotos. A multidão foi recebida com fogos de artifício, alegria e uma celebração eucarística presidida pelo pároco de Canindé, frei João Amilton dos Santos, que lembrou: tempo de romaria é tempo de reflexão. A expectativa dele é de que passem por Canindé, até 4 de outubro, dia do santo e fim dos festejos, cerca de um milhão de romeiros.
“Vamos mergulhar, nestes dez dias de festa, nos ensinamentos de São Francisco. Ele é exemplo de humildade e simplicidade. A gente deveria tomar o exemplo dele e se calar mais e agir mais”, clamou durante a homilia. O frei diz que são 255 anos de devoção ao santo em Canindé e dois séculos de festas para ele. “Ele arrebanha multidões. Nenhuma festa de padroeiro tem tanta gente como aqui”.
O exemplo de Francisco emociona Dina Lima, 60, a mestre Dina vaqueira de Canindé. Rezando na basílica, antes da missa, ela se emocionou ao contar a relação da família com o santo. “O dia de hoje é muito feliz. Começa a festa e eu me emociono pensando nos outros anos. Só vim agradecer a São Francisco”.
Também por gratidão, a família de Antônia Barbosa, 88, segue todos os anos de Itatira para Canindé. A filha Maria Barbosa, 50, carrega a tradicional veste franciscana. Símbolo de uma promessa a ser paga. “Enquanto vida eu tiver, fico vindo de marrom”. A neta Jociclea Barbosa, 30, frequentará a novena com um hábito como o da mãe Maria. Com ela, segue a tradição de fé da família. “E quando a gente tem filho, a fé aumenta mais. Quando a bebê fica doente, eu recorro a São Francisco”, diz.
A devoção é herança também na família da doméstica Raimunda Nonata de Freitas, 66, a dona Nenê. “Meus pais, avós, tudo vinham. E a pé. A gente não faz hoje porque tem medo de andar na estrada. Tenho muita fé em São Francisco”.
A festa segue até próximo dia 4 com novenas diárias para o santo e homenagens aos estados nordestinos. Além disso, estão previstas missas, procissões e encenação da Via-Sacra. Mestre Dina lembra ainda que sábado, 28, será rezada a Missa do Vaqueiro de Canindé, na Igreja de São Pedro.
Fonte: O Povo
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