quinta-feira, 24 de maio de 2012

Dessalinizador viabiliza água potável no sertão Canindeense


Imprópria para o consumo humano, muitas vezes a água salobra é a única alternativa para matar a sede no sertão, na maior seca já registrada no Ceará nos últimos 40 anos. Em Canindé, as poucas fontes de água traz o recurso com alta salinidade. As comunidades dependem de dessalizinadores para tornar potável a água salobra.
Na zona rural de Canindé, uma ficha de R$ 0,20 vale 20 litros de água potável. É assim no assentamento de Jacurutu. O dessalinizador retira a água do poço profundo para ser filtrada e bombeada até o reservatório de dois mil litros, beneficiando 60 famílias. A fonte funciona das 7 às 8 horas. Todo o dinheiro arrecadado serve para pagar o consumo de energia, que sai por R$ 25,00 em média.
Segundo o responsável pela manutenção dos aparelhos, José Nunes da Silva, o Zé Teixeira, diz que o equipamento funciona da seguinte maneira: a água salobra é bombeada para o dessalinizador. Passa por um sistema de pré-filtro, e segue para uma bomba de altíssima pressão. A água ganha força para passar pelas membranas, que impede a passagem de sais.
Como não é muito concentrada, a água salgada continua sendo utilizada na lavoura, nos afazeres domésticos e para os animais. Para o consumo das pessoas, é filtrada.
Dos 32 aparelhos instalados no Município, dez estão funcionando, nas comunidades de Esperança, Jacurutu, Barra Nova, Cacimba de Baixo, São Luis, Ipú Monte Alegre, Japuara, Bonito, Santana da Cal, São Serafim, Nogueira e Santa Luzia. O restante encontra-se em fase de implantação, porque as peças são caras. A manutenção é feita pela Secretaria de Agricultura e Recursos Hídricos.
"Esse aparelho melhorou a nossa vida. Antes era preciso acordar pela madrugada, andar quilômetros e quilômetros para conseguir água de péssima qualidade. Agora, basta ir com R$ 0,20 e trazer para casa a água", diz o agricultor Expedito de Sousa Freitas. Outro que comemora a chegada do dessalinizados é Sebastião Epifânio Braga, que aproveita a água que sobra com resíduos. Os moradores podem levar à vontade.
Segundo o secretário de Agricultura de Canindé, Ivan Andrade, o equipamento possibilita ao Município uma nova forma de combater a falta de água. "Aqui, quanto mais baixo, mais salobra a água fica. Isso porque o solo e o subsolo de Canindé são formados por rochas calcárias, com uma grande quantidade de sais, que não são como os que dão origem ao sal de cozinha. São principalmente sais de cálcio e magnésio, que deixam a água do local salobra. Outro fator que também contribui para isso é que na região tem mais evaporação do que chuva", explica.
O prefeito da cidade, Cláudio Pessoa, diz que a implantação do dessalinizador, com toda infraestrutura necessária, custa em torno de R$ 40 mil. "Além da melhoria da qualidade de vida, saúde, cidadania, você tem um investimento diluído ao longo do tempo bastante barato, que muda o conceito de vida do povo do sertão. Estamos trabalhando no sentido de conseguir mais apoio junto aos órgãos para colocarmos novos aparelhos em funcionamento", diz ele.
Para o ambientalista José Airton Maciel, nos últimos anos, inúmeros dessalinização por osmose reversa foram instalados no Ceará. "A dessalinização das águas pode constituir-se em uma ferramenta concreta de desenvolvimento regional no semiárido do Nordeste brasileiro; entretanto, é necessário que se considerem os riscos ambientais decorrentes. Isto porque, gera, além da água potável, uma água resíduária (rejeito) altamente salina e de poder poluente elevado", explica ele.
Porém, ele mostra a saída para evitar danos no solo. É o cultivo da planta Atriplex, uma forrageira arbustiva, originária da Austrália, mas encontrada em áreas da região Norte do Estado e fácil adaptação em ambientes áridos e semiáridos. A espécie se desenvolve bem em solos com alto teor de sal. É conhecida em muitos lugares pelo nome de "Planta Sal", que tem o poder de evitar a degradação do solo.
"A atriplex se caracteriza pela alta capacidade de retirar do solo grandes quantidades de sais. A capacidade que estas plantas têm para viver nesses ambientes é uma alternativa ecologicamente equilibrada, acessível ao pequeno produtor e que torna reaproveitável, áreas outrora improdutiva", explica ele.


(DN)

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